STF está a um voto de liberar financiamento obrigatório de sindicatos por parte dos trabalhadores
Enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aguarda o "melhor momento" para apresentar o projeto que retoma o Imposto Sindical, diante da repercussão negativa à medida, o Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a reiniciar a discussão sobre a contribuição assistencial compulsória para os trabalhadores não sindicalizados. Na prática, trata-se de um novo desconto no contracheque de todos os trabalhadores.
O julgamento deve ocorrer entre 8 a 15 de setembro no plenário virtual da Corte, sistema em que cada ministro pode registra seu voto durante um período determinado. A análise havia sido interrompida em abril por um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes. O placar atual é de cinco votos favoráveis à cobrança, ou seja, o Supremo está a um voto de formar maioria.
Especialistas veem com ressalva a chancela do STF à contribuição assistencial compulsória, que vai no sentido contrário da liberdade de associação prevista na reforma trabalhista, em 2017. "A nova lei vetou a cobrança de qualquer contribuição compulsória, sem a autorização prévia e expressa dos trabalhadores. Isso deveria valer para todas as taxas", entende a advogada trabalhista Camila Machado, do escritório Sonia Marques Dobler Advogados.
Luiz Alberto Meirelles de Azevedo, do escritório De Vivo Castro, Cunha e Whitaker Advogados, diz que houve uma "reviravolta no entendimento do STF", alertando para a jurisprudência anterior sobre o caso. "Já havia uma entendimento sobre o caso. A CLT diz que qualquer desconto ou cobrança precisa de autorização do trabalhador", destaca Azevedo.
Supremo muda entendimento da contribuição
Ainda em 2017, pouco antes da reforma trabalhista que extinguiu o Imposto Sindical obrigatório, o próprio Supremo havia reafirmado entendimento no sentido de que a cobrança da contribuição assistencial era inconstitucional.
Os sindicatos recorreram com embargos de declaração à decisão do Supremo, que começaram a ser julgados no plenário da Corte em junho do ano passado. O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, que havia sido contrário à cobrança no passado, mudou de posição.
Segundo ele, o voto havia sido proferido antes da reforma trabalhista, num momento de vigência do imposto sindical. Mendes acatou o argumento do ministro Luís Roberto Barroso, que defendeu a cobrança, desde que haja o chamado "direito de oposição". Ou seja, que o trabalhador tenha a opção de decidir se quer pagar ou não.
"O entendimento pela constitucionalidade das chamadas contribuições assistenciais, respeitado o direito de oposição, faculta a trabalhadores e sindicatos instrumento capaz de recompor a autonomia financeira do sistema sindical, concretizando o direito à representação sindical sem, ao mesmo tempo, ferir a liberdade sindical de associação", justificou em nota, à época, o ministro.
O voto de Gilmar Mendes foi acompanhado por Carmen Lúcia, Dias Toffoli, Edson Fachin. Barroso também votou a favor da cobrança, com a ressalva sobre o "direito de oposição". Agora, com a retomada do julgamento, Alexandre de Moraes será o primeiro a votar.
O STF ainda terá de decidir se vai considerar ou não o voto do ex-ministro Marco Aurélio Mello, que na primeira votação foi contra a cobrança, seguindo o posicionamento inicialmente adotado pelo relator. André Mendonça, que substituiu Marco Aurélio a partir de de dezembro de 2021, pode ser chamado a votar.
Informações da Gazeta do Povo / Foto: Nelson Jr./SCO/STF
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