A &uacute;nica forma de se vencer o&nbsp;extremismo, seja ele com cara de dem&ocirc;nio ou de p&ocirc;nei com glitter, &eacute; construindo uma resili&ecirc;ncia psicol&oacute;gica e moral nos indiv&iacute;duos. Certa vez, um aluno me questionou o porqu&ecirc;, num pa&iacute;s como os&nbsp;Estados Unidos, que tolera at&eacute; mesmo discursos abertamente&nbsp;neonazistas, n&atilde;o h&aacute; nenhum resqu&iacute;cio de advento de uma ditadura aos moldes do Leste Europeu do s&eacute;culo passado. Minha resposta foi exatamente esta: o norte-americano, pela constitui&ccedil;&atilde;o de suas ideias fundamentais e g&ecirc;nese hist&oacute;rica de sua na&ccedil;&atilde;o, aprendeu a repudiar ideias que atentam contra a liberdade individual e dignidade humana, construindo uma barreira moral e jur&iacute;dica contra tiranias. A popula&ccedil;&atilde;o, nas suas mais variadas camadas de erudi&ccedil;&atilde;o, poderio econ&ocirc;mico e cren&ccedil;a religiosa, compreende e defende o princ&iacute;pio comum da liberdade de cren&ccedil;a e express&atilde;o e da irrevogabilidade da dignidade do homem.

Citei ent&atilde;o a hist&oacute;ria de Aryeh Neier.&nbsp;Em 1978, o l&iacute;der neonazista norte-americano Frank Collin, com a ajuda improv&aacute;vel de um judeu refugiado, Aryeh Neier, ap&oacute;s a proibi&ccedil;&atilde;o de um juiz de primeira inst&acirc;ncia, pediu a autoriza&ccedil;&atilde;o do Estado para que sua manifesta&ccedil;&atilde;o nazista ocorresse ? inclusive com a su&aacute;stica e tudo mais ? numa cidade norte-americana, Skokie (Illinois) ? cidade que, na &eacute;poca, abrigava uma enorme comunidade de&nbsp;judeus&nbsp;refugiados do nazismo hitlerista.

Aryeh Neier fugiu da Alemanha nazista ainda beb&ecirc;, com os seus pais. Num primeiro momento, eles foram para o Reino Unido e, depois, para os EUA; a maioria de seus familiares morreram nos campos de concentra&ccedil;&atilde;o de Hitler. &Eacute; quase inimagin&aacute;vel para n&oacute;s que um judeu, que perdeu quase tudo para o nazismo, escolhesse defender o partido nazista norte-americano, mas foi o que fez Neier ? l&iacute;der representante, na &eacute;poca, do American Civil Liberties Union (ACLU). Em seu livro&nbsp;Defending My Enemy: American Nazis, The Skokie Case, and the Risks of Freedom&nbsp;(Defendendo Meu Inimigo: Nazistas Norte-Americanos em Skokie, e os Riscos da Liberdade), ele faz, para mim, a mais arrojada e emocionante defesa da liberdade de express&atilde;o, uma das demonstra&ccedil;&otilde;es mais absurdas de maturidade emocional e intelectual que pessoalmente vi ser relatado.&nbsp;Para Neier, em defesa da Primeira Emenda, que garante a liberdade de express&atilde;o irrestrita nos Estados Unidos, e pela liberdade do povo americano em si mesma, s&oacute; era poss&iacute;vel enxergar a verdade do que foi o nazismo se deix&aacute;ssemos que os pr&oacute;prios nazistas falassem e se expressassem. E, de fato, Frank Collin era essa sopa de &oacute;dio e discurso pol&iacute;tico golpista de enojar quaisquer pessoas s&atilde;s. Mas, para Aryeh, que defendeu e garantiu a liberdade da passeata nazista em Illinois, somente sob uma real igualdade de condi&ccedil;&otilde;es para a plena liberdade de se expressar sem ressalvas, seria poss&iacute;vel ver a olhos nus a verdade da maldade dos nossos inimigos.

E vejam, isso n&atilde;o se trata de um mero &ldquo;rasgar de seda&rdquo; para o Tio Sam e sua Primeira Emenda. Trata-se de reconhecer um modelo de valor social que funciona, &agrave; medida que prepara educacionalmente os indiv&iacute;duos para a realidade, para seus discursos diversos e ideais problem&aacute;ticas. O famoso &ldquo;esp&iacute;rito americano&rdquo;, que eles soberbamente apontam a todos sempre que podem, &eacute; justamente isso: a resili&ecirc;ncia psicol&oacute;gica com os tolos, os extremistas, pois a liberdade deles poderem dizer asneiras &eacute; a mesma dos s&atilde;os para expressarem valores imprescind&iacute;veis.&nbsp;

O resguardo jur&iacute;dico mant&eacute;m o princ&iacute;pio da liberdade irrestrita de ideias nos EUA, pois confia que a popula&ccedil;&atilde;o &eacute; plenamente capaz e educada para bem julgar o que &eacute; uma ideia de fundo ditatorial e aquilo que &eacute; meramente uma vertente pol&iacute;tica diversa. E foi justamente o que aconteceu com o Partido Nazista americano ap&oacute;s a passeata de Frank Collin, ele voltou para os por&otilde;es e p&acirc;ntanos do debate p&uacute;blico daquele pa&iacute;s, acossado n&atilde;o pelo punho policial do Estado ou quaisquer ag&ecirc;ncias reguladoras de discursos sociais, mas pela compreens&atilde;o madura da sociedade norte-americana sobre o que o nazismo era de fato: uma ideologia assassina e abjeta.&nbsp;

Aryeh Neier, ao afogar seus justos e incensur&aacute;veis rancores com o nazismo, a fim de defender aquele valor que fazia da democracia norte-americana uma plataforma social superior ao nazismo, acabou por matar moralmente o Partido Nazista naquele pa&iacute;s; enterrou de forma brutal, atrav&eacute;s da maturidade psicol&oacute;gica e jur&iacute;dica, quaisquer apre&ccedil;os populares que poderiam restar ao americano comum ante o nazismo. Isto mesmo, o judeu que defendeu o direito de livre manifesta&ccedil;&atilde;o dos nazistas norte-americanos, mostrou de forma irrevog&aacute;vel porque o modelo liberal era infinitamente melhor e dignificante do que o proposto por Adolf Hitler. Eis a maturidade social e pol&iacute;tica de um pa&iacute;s trucidando verdadeiramente o ide&aacute;rio nazista.

Ainda n&atilde;o conseguimos alcan&ccedil;ar tal maturidade psicol&oacute;gica em nossa na&ccedil;&atilde;o, &eacute; verdade; no comum inconveniente de uma opini&atilde;o diversa, queremos logo que o Estado cale o mensageiro da heresia &ldquo;lesa-ego&rdquo;. Aqui, ao contr&aacute;rio do que os norte-americanos perceberam h&aacute; mais de 200 anos, n&atilde;o entendemos ainda que a liberdade de express&atilde;o do tolo &eacute; tamb&eacute;m a liberdade de express&atilde;o do s&aacute;bio, que n&atilde;o se cala um sem atingir o outro.&nbsp;Lembro-me que, ap&oacute;s a aula, muitos alunos convencidos de nossa mente infantilizada, me perguntaram como criar tal cultura de resili&ecirc;ncia psicol&oacute;gica no pa&iacute;s. A &uacute;nica resposta poss&iacute;vel, eu disse, era combater a tirania psicol&oacute;gica do progressismo ao mesmo tempo que se trabalha em n&oacute;s a toler&acirc;ncia ao que &eacute; diverso; o Ocidente evoluiu a tal ponto que, mesmo diante de ditaduras sanguin&aacute;rias ? qui&ccedil;&aacute;, demon&iacute;acas ?, conseguiu se reerguer atrav&eacute;s dos mesmos e antigos valores de liberdade individual e maturidade psicol&oacute;gica.

O que assistimos hoje &eacute; um retorno, com belas ret&oacute;ricas, pompas jur&iacute;dicas e desejos altru&iacute;stas, ao modelo ide&aacute;rio fascista e comunista de sociedade, onde um grupo de ditadores permite ou n&atilde;o determinadas ideias e discursos sob a mesm&iacute;ssima e assustadora desculpa de &ldquo;defesa da sociedade&rdquo; ou &ldquo;da democracia&rdquo;. N&atilde;o perceber esse monstro atrav&eacute;s do v&eacute;u do progressismo trata-se de uma esp&eacute;cie de burrice arrematada com uma por&ccedil;&atilde;o generosa de ingenuidade hist&oacute;rica; o mundo n&atilde;o estar&aacute; melhor quando o Estado prender todos aqueles que ele julga fazer &ldquo;discursos de &oacute;dio&rdquo;, a sociedade estar&aacute; melhor quando, pela maturidade psicol&oacute;gica de seus indiv&iacute;duos, ideias como nazismo, comunismo e fascismo forem naturalmente enterrados pela maioria, que, convencida de seus males intr&iacute;nsecos, recusar&aacute; desde o ber&ccedil;o ret&oacute;rico a possibilidade de sua viabilidade.&nbsp;

Por que os Estados Unidos permitem seus punhados de neonazistas? Porque com maturidade psicol&oacute;gica, educa&ccedil;&atilde;o liberal e valores corretos enraizados, tais extremistas jamais deixar&atilde;o de ser tais punhados isolados, controlados naturalmente pela sanidade da maioria.&nbsp;Para deixarmos de ser esses eternos beb&ecirc;s raivosos que pedem a justi&ccedil;a do pai Estado sempre que o amiguinho nos magoa, uma mistura de ecologistas terroristas, Madres Tereza de Twitter e Stalins de apartamento, temos antes que amadurecer nossa percep&ccedil;&atilde;o de mundo, contrabalancear uma ordem moral interna a uma resili&ecirc;ncia social ante o outro e suas ideias de mundo. Caso contr&aacute;rio, jamais conheceremos a revigorante sensa&ccedil;&atilde;o de ser livre e respons&aacute;vel ao mesmo tempo. Se delegamos a institui&ccedil;&otilde;es de Estado a tarefa de nos dizer quais informa&ccedil;&otilde;es s&atilde;o confi&aacute;veis, quais discursos s&atilde;o sanitariamente seguros e quais indiv&iacute;duos podem ou n&atilde;o ferir as cut&iacute;culas de nossos egos, ent&atilde;o ainda estamos longe de qualquer maturidade digna de nota.&nbsp;

Para sermos livres, verdadeiramente, devemos antes estar dispostos a crescer ps&iacute;quica e moralmente, abandonar o cal&ccedil;o do Estado e das ideologias, a fim de tomar os controles de nossos deveres e direito ? assumindo o &ocirc;nus e o b&ocirc;nus dessa tarefa. Para ser um escravo ideol&oacute;gico, basta repetir o que o senhor do engenho pol&iacute;tico diz e fazer o que ele manda. Todavia, estou cada vez mais convencido que para ser realmente livre &eacute; necess&aacute;rio uma mistura de brio, maturidade e resili&ecirc;ncia, pois liberdade, meus caros, &eacute; para todos, mas os moleques jamais compreender&atilde;o a sua real indispensabilidade e import&acirc;ncia.

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Por&nbsp;Pedro Henrique Alves, Jovem Pan

Diz o Regimento Interno da C&acirc;mara dos Deputados que a casa s&oacute; pode ter cinco Comiss&otilde;es Parlamentares de Inqu&eacute;rito funcionando ao mesmo tempo. Hoje, existem quatro: do MST, das Lojas Americanas, da manipula&ccedil;&atilde;o de resultados no futebol e das pir&acirc;mides financeiras com criptomoedas &ndash; a do 8 de Janeiro, por ser uma comiss&atilde;o mista, que tamb&eacute;m inclui senadores, n&atilde;o faz parte da conta. E, dos in&uacute;meros assuntos que mobilizam deputados interessados na &uacute;ltima vaga aberta para CPIs, nenhum &eacute; t&atilde;o importante quanto os abusos de autoridade cometidos por membros do Poder Judici&aacute;rio nos &uacute;ltimos tempos. No entanto, apesar de a composi&ccedil;&atilde;o atual da C&acirc;mara ser teoricamente mais &agrave; direita ou conservadora que a anterior, o deputado&nbsp;Marcel van Hattem&nbsp;(Novo-RS)&nbsp;est&aacute; enfrentando mais dificuldades para conseguir as 171 assinaturas necess&aacute;rias, algo que ele havia obtido rapidamente no ano passado, quando a CPI s&oacute; n&atilde;o foi aberta por ter sido requerida muito perto do fim das atividades parlamentares de 2022.

Mesmo parlamentares que assinaram o requerimento no ano passado est&atilde;o relutando em repetir sua atitude neste ano, ou j&aacute; afirmaram que n&atilde;o o far&atilde;o.&nbsp;F&aacute;bio Schiochet&nbsp;(Uni&atilde;o-SC) argumentou que a CPI seria &ldquo;natimorta&rdquo; e que o Senado seria uma inst&acirc;ncia mais adequada para esse debate;&nbsp;Vermelho&nbsp;(PL-PR) afirmou que a CPI pode n&atilde;o dar em nada, citando o exemplo da CPMI do 8 de Janeiro;&nbsp;Carlos Chiodini&nbsp;(MDB-SC) foi ainda mais incisivo, falando em &ldquo;farra de CPIs&rdquo; e defendendo que h&aacute; temas mais importantes merecendo a aten&ccedil;&atilde;o do Congresso, como a&nbsp;reforma tribut&aacute;ria. S&atilde;o argumentos que precisam ser desmistificados, seja por revelarem uma compreens&atilde;o equivocada das prioridades do pa&iacute;s, seja por deixarem impl&iacute;cito um certo tom de rendi&ccedil;&atilde;o &agrave; dif&iacute;cil realidade que o Brasil vive, seja por demonstrar um certo desconhecimento acerca do real servi&ccedil;o que uma CPI do Abuso de Autoridade poderia prestar ao pa&iacute;s.

N&atilde;o se trata, como j&aacute; dissemos em outras ocasi&otilde;es, de responsabilizar formalmente ministros do&nbsp;Supremo&nbsp;pela maneira como t&ecirc;m colaborado para a eros&atilde;o do Estado Democr&aacute;tico de Direito no Brasil &ndash; esta, sim, tarefa que cabe exclusivamente ao Senado, que a Constitui&ccedil;&atilde;o designou como contrapeso ao STF. Trata-se, isto sim, de recuperar os princ&iacute;pios que norteiam uma compreens&atilde;o correta da&nbsp;liberdade de express&atilde;o, princ&iacute;pios esses cuja perda permitiu que, a pretexto de &ldquo;proteger a&nbsp;democracia&rdquo;, fossem utilizados m&eacute;todos que violam frontalmente essa liberdade. A caixa de Pandora da&nbsp;censura&nbsp;j&aacute; se demonstrou dific&iacute;lima de fechar, apesar da ingenuidade (na melhor das hip&oacute;teses) de ministros que julgaram ser poss&iacute;vel controlar o monstro, cuja soltura justificaram no passado usando eufemismos como &ldquo;arco de experimenta&ccedil;&atilde;o regulat&oacute;ria&rdquo; (na express&atilde;o de&nbsp;Edson Fachin) ou &ldquo;situa&ccedil;&atilde;o excepcional&iacute;ssima&rdquo; (nas palavras de&nbsp;C&aacute;rmen L&uacute;cia, renegando seu &ldquo;cala a boca j&aacute; morreu&rdquo; de 2015).

O que era &ldquo;excepcional&iacute;ssimo&rdquo; se tornou corriqueiro a ponto de as decis&otilde;es que instituem censura pr&eacute;via, por meio da remo&ccedil;&atilde;o sum&aacute;ria de perfis em m&iacute;dias sociais, j&aacute; nem mencionarem crimes concretos, devidamente tipificados no C&oacute;digo Penal, que pudessem justificar qualquer medida semelhante. Basta, agora,&nbsp;a repeti&ccedil;&atilde;o&nbsp;ad nauseam&nbsp;de frases de efeito em mai&uacute;sculas ou negrito e o uso abundante de pontos de exclama&ccedil;&atilde;o&nbsp;para dar ares de &ldquo;defesa da democracia&rdquo; a decis&otilde;es que, na pr&aacute;tica, a solapam &ndash; o caso mais recente foi o da censura ao produtor de conte&uacute;do digital Monark, cujo &ldquo;crime&rdquo; fora fazer cr&iacute;ticas a&nbsp;Alexandre de Moraes&nbsp;e ao&nbsp;Tribunal Superior Eleitoral. Elas demonstram que, mesmo que n&atilde;o tenha havido nenhuma inten&ccedil;&atilde;o explicitamente autorit&aacute;ria da parte dos ministros do STF, o fato &eacute; que h&aacute; muito perdeu-se a no&ccedil;&atilde;o real do valor da liberdade de express&atilde;o e de quais s&atilde;o os seus limites corretos (pois os h&aacute;), no&ccedil;&atilde;o essa soterrada pela confus&atilde;o conceitual que tudo transforma em &ldquo;ataque&rdquo; e &ldquo;discurso de &oacute;dio&rdquo;, justificando a repress&atilde;o a atitudes que est&atilde;o longe de caracterizarem os crimes efetivamente previstos na lei penal brasileira. Como explicou &agrave;&nbsp;Gazeta do Povo&nbsp;o professor de Direito Constitucional Alessandro Chiarottino, a no&ccedil;&atilde;o de liberdade de express&atilde;o defendida por Moraes em suas decis&otilde;es colide frontalmente com o que realmente essa liberdade significa, e os limites que o ministro imp&otilde;e a essa garantia b&aacute;sica extrapolam completamente os limites que o legislador quis estabelecer.

Quando &eacute; assim, j&aacute; n&atilde;o se pode falar que persista no Brasil uma das notas caracter&iacute;sticas do Estado de Direito, que &eacute; o imp&eacute;rio da lei. E esse fen&ocirc;meno n&atilde;o se verifica apenas na destrui&ccedil;&atilde;o da liberdade de express&atilde;o no pa&iacute;s, mas em v&aacute;rias outras decis&otilde;es judiciais que extrapolam as leis e c&oacute;digos processuais, como as pris&otilde;es abusivas do p&oacute;s-8 de janeiro&nbsp;e o escandaloso caso da cassa&ccedil;&atilde;o de&nbsp;Deltan Dallagnol, em que o Tribunal Superior Eleitoral ignorou o texto da Lei da Ficha Limpa e inventou uma &ldquo;inelegibilidade por possibilidade&rdquo;.

Isso nos traz de volta &agrave; alega&ccedil;&atilde;o do deputado Chiodini para n&atilde;o assinar o requerimento da CPI. Ainda que as reformas macroecon&ocirc;micas sejam essenciais &ndash; e ontem mesmo, neste espa&ccedil;o, tratamos da import&acirc;ncia da reforma tribut&aacute;ria &ndash;, o que seria mais urgente e importante no Brasil que recuperar o valor da liberdade de express&atilde;o e restaurar o imp&eacute;rio da lei, hoje anulado pelo triunfo da vontade e da conveni&ecirc;ncia pol&iacute;tica? Que inst&acirc;ncia seria melhor que o cora&ccedil;&atilde;o do poder, o Legislativo federal, para expor ao pa&iacute;s inteiro, com riqueza de detalhes, o que realmente significa a garantia constitucional da liberdade de express&atilde;o e como seu sentido real foi deturpado e substitu&iacute;do por uma concep&ccedil;&atilde;o arbitr&aacute;ria? N&atilde;o seria essa a oportunidade que falta para aquelas parcelas da sociedade e da opini&atilde;o p&uacute;blica que se omitiram diante dessa desconstru&ccedil;&atilde;o, ou at&eacute; mesmo a aplaudiram, finalmente abrirem os olhos para os absurdos que t&ecirc;m sido cometidos &ldquo;em defesa da democracia&rdquo;?

A omiss&atilde;o dos parlamentares contribuiu em grande parte para que o Judici&aacute;rio se hipertrofiasse a ponto de hoje se julgar acima das leis, dos c&oacute;digos processuais e da Constitui&ccedil;&atilde;o. Deputados avalizaram absurdos cometidos contra seus pares, senadores deixaram de cumprir seu papel constitucional de contrapeso ao Supremo. a CPI do Abuso de Autoridade &eacute; uma chance de iniciar um caminho de retorno &agrave; normalidade democr&aacute;tica perdida. Nada &eacute; mais priorit&aacute;rio que isso.

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Gazeta do Povo

Por uma pesca com mais prestígio político

Por uma pesca com mais prest&iacute;gio pol&iacute;tico Minha origem na pol&iacute;tica vem da pesca artesanal, minha hist&oacute;ria &eacute; na pesca. Sou neto e filho de pescador, e sou pescador. Assumi como Deputado Federal defendendo a pesca artesanal. Tenho muito orgulho de estar no Congresso Nacional desde o mandato passado, sendo eleito pela primeira vez em 2018 com 95% dos votos dos pescadores artesanais.

Quando cheguei a Bras&iacute;lia, encontrei uma pesca desacreditada. A pesca teve minist&eacute;rio, perdeu minist&eacute;rio e chegou a ter Secretaria Nacional, onde nos estados t&iacute;nhamos apenas uma Divis&atilde;o. Perdemos Superintend&ecirc;ncias, perdemos Coordena&ccedil;&atilde;o e passamos a ser Divis&atilde;o de uma Superintend&ecirc;ncia.

Se a pesca n&atilde;o faz parte do or&ccedil;amento publico, n&atilde;o tem investimento, n&atilde;o tem pol&iacute;ticas p&uacute;blicas. O meu desafio sempre foi fazer com que o Governo entendesse a import&acirc;ncia do retorno e prest&iacute;gio pol&iacute;tico a uma classe que gera emprego, renda, produz o melhor alimento que a sociedade pode consumir e que precisa receber um olhar diferente.

O atual Governo estabeleceu uma linha pol&iacute;tica na pesca. O fato de ter Minist&eacute;rio da Pesca j&aacute; nos d&aacute; um farol indicativo, no qual podemos agora discutir espa&ccedil;o p&uacute;blico, no sentido de investimento do or&ccedil;amento. Quero os direitos sociais garantidos, como o seguro defeso, que entendo como necess&aacute;rio, pois &eacute; preciso proteger a esp&eacute;cie que est&aacute; em momento de reprodu&ccedil;&atilde;o, mas n&atilde;o esquecer que o pescador precisa se manter. Com o Governo passado, n&oacute;s conseguimos fazer o recadastramento, por&eacute;m, o sistema possui in&uacute;meros problemas de ordem t&eacute;cnica, n&atilde;o mostra a realidade. N&atilde;o podemos ter o recadastramento de um milh&atilde;o de pessoas que leve dois a tr&ecirc;s anos. Precisamos disso em seis meses, a tecnologia hoje permite isso.

Alguns pontos ser&atilde;o cruciais do ponto de vista dos programas governamentais, a exemplo de um programa de renova&ccedil;&atilde;o da frota pesqueira, a restrutura&ccedil;&atilde;o do programa de subven&ccedil;&atilde;o do &oacute;leo diesel que, diga-se de passagem, corresponde a 40%, sen&atilde;o 50% do custo de produ&ccedil;&atilde;o, ter um programa de governo que incentive o consumo de pescados, pois temos apenas um consumo per capta ano de 9kg. Temos muito no que trabalhar e isso &eacute; o que me move.

N&oacute;s temos uma luta. A pesca e aquicultura hoje s&atilde;o dois dos grandes do mundo do agroneg&oacute;cio, mas precisamos aprender a aplicar conhecimento, tecnologia e investimento. Com a for&ccedil;a do parlamento e a boa disposi&ccedil;&atilde;o do governo, vamos avan&ccedil;ar muito nesse setor que cresce em m&eacute;dia 20% todos os anos.&nbsp;

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Deputado federal Raimundo Costa (Podemos-BA)

Negros não podem ser indicados ao TCM?

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Por Luiz Carlos Su&iacute;ca* 
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A pol&ecirc;mica envolvendo a indica&ccedil;&atilde;o para o pleno do Tribunal de Contas dos Munic&iacute;pios da Bahia (TCM-BA) abriu outros debates que todos que atuam na pol&iacute;tica brasileira j&aacute; est&atilde;o cansados de saber: o racismo estrutural, o machismo e a falta de t&eacute;cnicos para o quadro de conselheiros. Primeiro &eacute; importante questionar se negros n&atilde;o podem ser indicados, porque eu nunca vi serem indicados a cargos como esse, e temos in&uacute;meros pol&iacute;ticos negros com perfil para a vaga. Segundo, se o cargo deve ser de indica&ccedil;&atilde;o mesmo, j&aacute; que se trata de uma atua&ccedil;&atilde;o t&eacute;cnica.&nbsp;

Creio que o tribunal seja um espa&ccedil;o de fundamental import&acirc;ncia para a pol&iacute;tica e para a gest&atilde;o municipal no estado. E isso deve ser encarado de forma t&eacute;cnica, com pessoas qualificadas, que entendem de gest&atilde;o p&uacute;blica. O debate da indica&ccedil;&atilde;o da primeira-dama ou ex-primeira-dama &eacute; raso, mas considera a qualifica&ccedil;&atilde;o de cada pessoa para exercer tal fun&ccedil;&atilde;o de conselheira do TCM. De forma hist&oacute;rica e por quest&otilde;es pol&iacute;ticas, a indica&ccedil;&atilde;o na Bahia cabe &agrave; Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e envolve deputados, ex-deputados ou membros do governo escolhido pelo governador.&nbsp;

Obviamente, quando o governador indica &eacute; porque a sua base est&aacute; consolidada para conseguir votos suficientes para garantir que a indica&ccedil;&atilde;o passe no plen&aacute;rio. Mas o que contesto aqui &eacute; o modus operandi da indica&ccedil;&atilde;o. Existem pol&iacute;ticos negros que n&atilde;o s&atilde;o nem mencionados e t&ecirc;m maior qualifica&ccedil;&atilde;o, maior conhecimento jur&iacute;dico e de gest&atilde;o. &Eacute; importante ressaltar que atualmente, o sal&aacute;rio de um conselheiro do TCM &eacute; de R$ 35.462,22, podendo chegar a R$ 52,8 mil mensais, sem contar outros benef&iacute;cios como abono perman&ecirc;ncia.&nbsp;

Existem ainda as vantagens de ser um cargo vital&iacute;cio e de ter foro por prerrogativa de fun&ccedil;&atilde;o, ou seja, o conselheiro tem foro, mas fica restrito a fatos ocorridos durante o exerc&iacute;cio do cargo e em raz&atilde;o deste. Esse mesmo entendimento &eacute; aplicado aos governadores. Ent&atilde;o, vamos l&aacute;! A defesa aqui &eacute; veemente em rela&ccedil;&atilde;o a uma indica&ccedil;&atilde;o de um pol&iacute;tico negro, seja homem ou mulher. Essa quest&atilde;o racista j&aacute; deveria ter chegado h&aacute; muito tempo no TCM da Bahia. S&oacute; tem homens brancos na forma&ccedil;&atilde;o do tribunal, e n&atilde;o reconhe&ccedil;o qualifica&ccedil;&atilde;o neles. E isso, por si s&oacute;, j&aacute; &eacute; uma afronta ao povo baiano, que, em sua maioria absoluta, &eacute; negro.

E se a gente se debru&ccedil;ar sobre os candidatos para 2023, que provavelmente v&atilde;o para o embate na Assembleia, s&atilde;o dois brancos, n&atilde;o t&ecirc;m legitimidade. Mostra que o racismo e o machismo s&atilde;o da estrutura do tribunal, que n&atilde;o tem nem mulher e nem negros em sua composi&ccedil;&atilde;o. Essa vaga para o TCM que est&atilde;o debatendo ser&aacute; a terceira indicada pelo governador. O cargo est&aacute; desocupado desde maio de 2022, quando o conselheiro Raimundo Moreira se aposentou.&nbsp;

E a pol&ecirc;mica a respeito dos nomes tamb&eacute;m perpassa pela regi&atilde;o Nordeste do pa&iacute;s. Acreditem que a pr&aacute;tica de indicar a primeira-dama para uma vaga de cargo vital&iacute;cio tamb&eacute;m foi vista em Alagoas, e o governador indicou a esposa. No Piau&iacute;, o TCE teve uma primeira-dama indicada. Embora as nomea&ccedil;&otilde;es sejam legais, elas constituem gesto expl&iacute;cito de autofavorecimento dos atuais ministros e ex-governadores, que &ldquo;utilizam seu prest&iacute;gio para aumentar a pr&oacute;pria renda&rdquo;. O que j&aacute; &eacute; um debate importante para ser ampliado com o movimento negro e com todos que atuam na pol&iacute;tica brasileira.

Essa priva&ccedil;&atilde;o de nomes t&eacute;cnicos para os tribunais incomoda e muito, j&aacute; que nenhuma das pessoas indicadas t&ecirc;m grande experi&ecirc;ncia no controle de contas p&uacute;blicas, s&atilde;o cercados de t&eacute;cnicos que fazem o trabalho dos conselheiros. Para ocupar o cargo &eacute; preciso ter, como relatam os jornais, &ldquo;reconhecida idoneidade moral e conhecimentos de administra&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica&rdquo;. Na Bahia, se h&aacute; resist&ecirc;ncia dos partidos da base aliada ao ponto de gerar constrangimento at&eacute; em grandes lideran&ccedil;as do grupo pol&iacute;tico, isso &eacute; uma dificuldade que pode justificar moralmente a escolha, pois ilegal n&atilde;o &eacute;. 
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*Luiz Carlos Su&iacute;ca &eacute; historiador, sindicalista e vereador de Salvador pelo PT da Bahia

A ministra Marina Silva, escolhida pelo presidente Lula para cuidar do meio ambiente no Brasil, disse na reuni&atilde;o internacional de Davos que h&aacute; &ldquo;120 milh&otilde;es de pessoas&rdquo; passando fome no Brasil este momento. &Eacute; uma mentira irrespons&aacute;vel, agressiva e mal-intencionada. A ministra n&atilde;o apenas oferece ao mundo um n&uacute;mero falso &mdash; &eacute; uma contrafa&ccedil;&atilde;o que vai no exato contr&aacute;rio da atual realidade dos fatos. Qualquer dos diversos Minist&eacute;rios da Verdade que existem ou est&atilde;o em projeto no Brasil de hoje chamaria isso, aos gritos, de &ldquo;fake news&rdquo;; como s&oacute; se escandalizam com as not&iacute;cias de que n&atilde;o gostam, essa vai passar batido. Mas n&atilde;o deixa, por isso, de ser uma mentira de primeiro, segundo e terceiro grau.

O Brasil, na carta oficial das fic&ccedil;&otilde;es da esquerda, tinha at&eacute; outro dia &ldquo;33 milh&otilde;es de pessoas&rdquo; com fome, um disparate fabricado para uso na campanha eleitoral e desvinculado de qualquer rela&ccedil;&atilde;o com as realidades mais evidentes. A ministra, ao que parece, decidiu que essa cifra n&atilde;o &eacute; suficientemente ruim para os seus prop&oacute;sitos; aumentou a desgra&ccedil;a por quatro, de um momento para outro, e tentou mostrar um Brasil em estado terminal de mis&eacute;ria para a plateia de milion&aacute;rios entediados que vai &agrave; Su&iacute;&ccedil;a uma vez por ano para lamentar os problemas do capitalismo. O que disse n&atilde;o tem p&eacute; nem cabe&ccedil;a. Os &ldquo;120 milh&otilde;es&rdquo; de famintos s&atilde;o mais que um n&uacute;mero errado &mdash; s&atilde;o simplesmente uma estupidez, como seria descrever um homem que tem oito metros de altura ou um cavalo que corre a mil quil&ocirc;metros por hora.

No mundo das realidades objetivas, o que est&aacute; acontecendo com o Brasil &eacute; o oposto do que disse a ministra. Segundo os &uacute;ltimos dados do&nbsp;Banco Mundial, o Brasil foi o pa&iacute;s que mais reduziu a mis&eacute;ria na Am&eacute;rica Latina em 2020, saindo de um &iacute;ndice de 5,4% da popula&ccedil;&atilde;o para 1,9% &mdash; o menor de toda a s&eacute;rie hist&oacute;rica, iniciada em 1980. Em 2019, de acordo com o Banco Mundial, o Brasil tinha acima de 11 milh&otilde;es de pessoas vivendo na mis&eacute;ria &mdash; ou seja, ganhando at&eacute; US$ 2,15 d&oacute;lares, ou pouco acima de R$ 10, por dia. Em 2020, esse n&uacute;mero caiu para 4 milh&otilde;es; em um ano, 7 milh&otilde;es de brasileiros deixaram a pobreza extrema. N&atilde;o &eacute; uma informa&ccedil;&atilde;o do departamento de propaganda do governo anterior; &eacute; n&uacute;mero do Banco Mundial, coisa que a esquerda sempre toma como definitiva. Como dizer, ent&atilde;o, que h&aacute; &ldquo;120 milh&otilde;es de pessoas&rdquo; passando fome num pa&iacute;s onde menos de 5% da popula&ccedil;&atilde;o est&aacute; abaixo da linha da mis&eacute;ria?

N&atilde;o existe fome acima da linha da mis&eacute;ria, nem &ldquo;inseguran&ccedil;a alimentar&rdquo;, como se diz hoje. A ministra Marina mente, apenas, e mente com uma mentira na qual &eacute; tecnicamente imposs&iacute;vel acreditar. &Eacute; este o padr&atilde;o de seriedade dos extremistas que est&atilde;o na alma do governo Lula. 
 
 
J.R. Guzzo, publicado no jornal&nbsp;O Estado de S. Paulo&nbsp;em 18 de janeiro de 2023

Nada &eacute; t&atilde;o ruim que n&atilde;o possa piorar. O velho brocardo aplica-se bem &agrave; situa&ccedil;&atilde;o de Feira de Santana, a maior cidade do interior da Bahia, com uma popula&ccedil;&atilde;o superior a 650 mil almas, de acordo com a pr&eacute;via do Censo 2022 divulgada na semana passada pelo IBGE. L&aacute;, para morrer, basta estar vivo, como diz outro ditado antigo.

N&atilde;o, meu caro leitor, ainda n&atilde;o chegamos &agrave;quela situa&ccedil;&atilde;o limite retratada por Jo&atilde;o Cabral de Mello Neto no poema Morte e Vida Severina, um cl&aacute;ssico da literatura brasileira. No poema, o retirante Severino, em sua jornada desde a Serra da Costela, onde nasceu, at&eacute; o Recife, &eacute; advertido que naquelas paragens a morte &eacute; tanta que s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel trabalhar naquelas profiss&otilde;es que dela fazem of&iacute;cio ou bazar.

Ainda n&atilde;o, mas o simples ato de viver &eacute; cada vez mais perigoso em Feira de Santana. A cidade no ano passado registrou 327 v&iacute;timas de homic&iacute;dio, consolidando a nada honrosa posi&ccedil;&atilde;o de capital baiana da viol&ecirc;ncia, conquistada em 2021, considerando os munic&iacute;pios com mais de 100 mil habitantes, segundo a &uacute;ltima edi&ccedil;&atilde;o do Anu&aacute;rio 2022 do F&oacute;rum Brasileiro de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica &ndash; no ranking nacional, apareceu na terceira posi&ccedil;&atilde;o.

Como se n&atilde;o bastasse, a essas v&iacute;timas da viol&ecirc;ncia somaram-se outras 438 pessoas que morreram na fila da regula&ccedil;&atilde;o, aguardando vaga em um hospital, conforme revelou o prefeito Colbert Martins, em um v&iacute;deo veiculado ontem, dia 12, nas redes sociais.

O prefeito, que &eacute; m&eacute;dico, vem apontando o agravamento dos problemas na regula&ccedil;&atilde;o h&aacute; alguns anos e na semana passada voltou a faz&ecirc;-lo. Foi o bastante para a diretora da Central Estadual de Regula&ccedil;&atilde;o de Sa&uacute;de, Rita Santos, desmenti-lo, afirmando que as declara&ccedil;&otilde;es do prefeito s&atilde;o levianas e n&atilde;o refletem a realidade.

Na tr&eacute;plica, Colbert gravou o v&iacute;deo citando os n&uacute;meros de um levantamento produzido pela Secretaria Municipal de Sa&uacute;de, o qual aponta o total de mortes de pacientes locais que estavam na fila da regula&ccedil;&atilde;o ao longo do ano passado.

Mas o problema &eacute; antigo e o bota-boca n&atilde;o resolve nada. Como bem sabe a atenta leitora, o sistema funciona mais ou menos assim: todos os casos de pacientes atendidos nas unidades de sa&uacute;de de baixa e m&eacute;dia complexidade que necessitem de assist&ecirc;ncia m&eacute;dica de alta complexidade &ndash; servi&ccedil;os prestados geralmente pelos hospitais gerais ou pelos especializados &ndash; s&atilde;o comunicados &agrave; central de regula&ccedil;&atilde;o, que se encarrega de procurar a vaga e autorizar o internamento.

S&oacute; que, algumas vezes, a demora para encontrar uma vaga em um hospital &eacute; t&atilde;o grande que o paciente acaba morrendo antes de ser internado. Tanto que a regula&ccedil;&atilde;o ganhou o nome de fila da morte, dado pelo povo, que, em sua infinita sabedoria, sabe muito bem onde o calo lhe aperta.

N&atilde;o se trata, portanto, de uma quest&atilde;o meramente pol&iacute;tica, como as duas partes envolvidas na discuss&atilde;o alegam. Inclusive porque n&atilde;o se restringe a Feira de Santana, cidade governada por um prefeito que faz oposi&ccedil;&atilde;o ao governador do Estado. A fragilidade do sistema se manifesta em todo o Estado e certamente de forma mais aguda nos pequenos munic&iacute;pios das regi&otilde;es mais distantes da capital.

Ou seja, o governo estadual pode at&eacute; dizer que n&atilde;o tem fila, mas que h&aacute; pessoas morrendo enquanto aguardam vaga em um hospital, isso ningu&eacute;m pode negar. O primeiro passo para encontrar uma solu&ccedil;&atilde;o, vamos convir, &eacute; reconhecer de imediato que existe o problema. Escamote&aacute;-lo n&atilde;o conduz a nada &ndash; a n&atilde;o ser a mais mortes. 
 
 
Artigo do site Informe Baiano

TSE se transformou em facção política em favor de uma candidatura

Nunca antes, na hist&oacute;ria das elei&ccedil;&otilde;es nesse pa&iacute;s, um candidato usou tanto a posi&ccedil;&atilde;o de for&ccedil;a que tem no&nbsp;Tribunal Superior Eleitoral&nbsp;(TSE) para censurar o que o seu advers&aacute;rio de campanha diz nos &oacute;rg&atilde;os de imprensa e nas redes sociais. Nunca houve, ao mesmo tempo, um TSE como esse &ndash; um organismo de Estado que abandonou sua obriga&ccedil;&atilde;o de operar de maneira neutra o mecanismo da vota&ccedil;&atilde;o e apura&ccedil;&atilde;o dos votos, e se transformou numa fac&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica em favor de uma candidatura e contra a outra.

Agora, neste final de campanha, o ex-presidente&nbsp;Luiz In&aacute;cio Lula da Silva&nbsp;e o TSE se empenham num esfor&ccedil;o neur&oacute;tico de supera&ccedil;&atilde;o. Lula n&atilde;o se contenta mais em censurar o que o concorrente diz dele. Quer censurar tamb&eacute;m o que ele pr&oacute;prio, Lula, j&aacute; disse no passado - em p&uacute;blico, por sua livre e espont&acirc;nea vontade e com a costumeira arrog&acirc;ncia de quem se julga capaz de decretar o que &eacute; a verdade sobre tudo que existe no mundo. Acha, agora, que uma por&ccedil;&atilde;o das coisas que disse pode lhe tirar votos, e exige que o TSE pro&iacute;ba a sua divulga&ccedil;&atilde;o. O TSE concorda.

Lula afirmou, tempos atr&aacute;s, que &ldquo;a natureza&rdquo; tinha feito um grande favor ao Brasil, quando mandou a covid para c&aacute;. &ldquo;Ainda bem&rdquo;, disse ele. Assim as pessoas aprendem a &ldquo;import&acirc;ncia do Estado&rdquo; &ndash; ou, mais exatamente, aprendem a obedecer ao governo.

Poucas afirma&ccedil;&otilde;es poderiam deixar t&atilde;o claro como Lula v&ecirc; o Brasil &ndash; uma massa de gente que est&aacute; a&iacute; para servir ao deus &uacute;nico do seu &ldquo;Estado&rdquo;, e, naturalmente, a quem manda nele. Tudo bem. Mas se ele pensa assim, por que n&atilde;o tem a coragem m&iacute;nima de assumir a responsabilidade pelo que disse h&aacute; t&atilde;o pouco tempo atr&aacute;s, e disse com tanta emp&aacute;fia?

A verdade &eacute; que Lula n&atilde;o tem convic&ccedil;&atilde;o s&eacute;ria nenhuma &ndash; s&oacute; tem interesses, e s&oacute; diz o que lhe parece render mais proveito pessoal no momento em que est&aacute; falando. Agora j&aacute; &eacute; outro momento, e ele v&ecirc; que a sua orat&oacute;ria de outro dia sobre a covid pode lhe fazer mal na hora da elei&ccedil;&atilde;o. Corre, ent&atilde;o, para pedir censura ao TSE: &ldquo;Pro&iacute;bam que algu&eacute;m divulgue o que eu falei&rdquo;, exige ele. O TSE executa no ato &ndash; se censura o que os outros dizem de Lula, qual &eacute; o problema de censurar o que ele diz de si mesmo, se &eacute; isso que os seus advogados est&atilde;o querendo?

Lula chega &agrave; v&eacute;spera da elei&ccedil;&atilde;o fazendo um esfor&ccedil;o extraordin&aacute;rio para mostrar ao eleitor que ele n&atilde;o pensa nada sobre coisa nenhuma; acha que &eacute; mais seguro, para sua candidatura, n&atilde;o se comprometer com coisa nenhuma e ficar na repeti&ccedil;&atilde;o de bobagens que lhe rendem palmas nos audit&oacute;rios do PT - do tipo &ldquo;eu vou devolver a felicidade a este pa&iacute;s&rdquo;. N&atilde;o quer, nem mesmo, responder alguma pergunta feita em p&uacute;blico. Diz que todos j&aacute; o conhecem, que ele n&atilde;o deve explica&ccedil;&otilde;es a ningu&eacute;m e que n&atilde;o precisa mais demonstrar o seu g&ecirc;nio sem limites na pol&iacute;tica do Brasil e do mundo. &Eacute; esse o seu projeto de governo. 
 
 
J.R. Guzzo, Estad&atilde;o

Por que as pesquisas eleitorais têm resultados tão diferentes?

A menos de dois meses das&nbsp;elei&ccedil;&otilde;es presidenciais, o cen&aacute;rio &eacute; marcado por uma estabilidade&nbsp;evidente: o ex-presidente&nbsp;Luiz In&aacute;cio Lula da Silva&nbsp;(PT) e o presidente&nbsp;Jair Bolsonaro&nbsp;(PL) polarizam e protagonizam a disputa &agrave; Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica. Mais do que isso, analistas e diretores de institutos de pesquisa dizem que nunca antes na hist&oacute;ria os eleitores chegaram a essa &eacute;poca da corrida eleitoral t&atilde;o decididos &ndash; cerca de 7 a cada 10 pessoas aptas a votarem j&aacute; escolheram os seus representantes. Embora ao longo do ano o panorama apresente poucas mudan&ccedil;as, os levantamentos mais recentes trazem resultados conflitantes, ainda que concentre a disputa nos dois candidatos: ora a&nbsp;vantagem de Lula beira os 18 pontos percentuais, com chances reais de vit&oacute;ria no primeiro turno, ora a dist&acirc;ncia para Bolsonaro se limita a 6%, confirmando um segundo turno polarizado &ndash; e bastante acirrado. Em outros levantamentos ,ainda, a&nbsp;diferen&ccedil;a cai para 5%, com tend&ecirc;ncia de alta para o atual presidente. Ent&atilde;o, resta a d&uacute;vida: por que os resultados das pesquisas s&atilde;o t&atilde;o diferentes? Qual instituto apresenta o resultado mais fiel ou preciso sobre as pr&oacute;ximas elei&ccedil;&otilde;es? Os n&uacute;meros s&atilde;o uma antecipa&ccedil;&atilde;o do pleito ou um recorte do momento? Para entender esse universo, a&nbsp;Jovem Pan&nbsp;conversou com tr&ecirc;s especialistas sobre o assunto. Confira abaixo as principais motiva&ccedil;&otilde;es:

Uma das explica&ccedil;&otilde;es para os resultados divergentes &eacute; o&nbsp;plano amostral, ou seja, o recorte utilizado nas pesquisas eleitorais como refer&ecirc;ncia da sociedade. O cientista pol&iacute;tico Leonardo Barreto afirma que &eacute; indispens&aacute;vel que a amostragem considerada pelos institutos seja &ldquo;fidedigna na caracter&iacute;stica da popula&ccedil;&atilde;o&rdquo;, evitando erros de p&uacute;blico alvo. &ldquo;O que determina a qualidade de uma pesquisa &eacute; a qualidade da amostra. Se a amostra est&aacute; bem calculada e o m&eacute;todo bem aplicado, em tese, n&atilde;o deveria encontrar diferen&ccedil;as [de resultados]. O que explica, ent&atilde;o? O erro, h&aacute; erro de amostra ou de coleta&rdquo;, antecipa. Segundo o pesquisador, o problema &eacute; que a mais importante base de dados sobre a sociedade brasileira est&aacute; defasada: o Censo Demogr&aacute;fico. Com a n&atilde;o realiza&ccedil;&atilde;o da pesquisa pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;sticas (IBGE) em 2020, os institutos utilizam dados de 2010. Ou seja, ao fazer os c&aacute;lculos estat&iacute;sticos para determinar a porcentagem de eleitores por g&ecirc;nero, classe, religi&atilde;o, renda e escolaridade, por exemplo, as atuais pesquisas consideram informa&ccedil;&otilde;es de 12 anos atr&aacute;s, o que pode causar erros na amostragem e explicar a diferen&ccedil;a significativa nos resultados. &ldquo;Todos dizem que entre evang&eacute;licos o Bolsonaro tem uma porcentagem maior. Mas a quest&atilde;o &eacute; qual a porcentagem de evang&eacute;licos no Brasil hoje? A chance de erro &eacute; grande, &eacute; maior do que em outras elei&ccedil;&otilde;es. Uma parte da explica&ccedil;&atilde;o &eacute; essa&rdquo;, completa Barreto.

O segundo ponto citado pelo cientista pol&iacute;tico e que pode explicar as diverg&ecirc;ncias &eacute; a&nbsp;metodologia. Atualmente, existem tr&ecirc;s m&eacute;todos para aplica&ccedil;&atilde;o das pesquisas: presencial, por telefone ou via redes sociais, sendo os dois primeiros os mais comuns e que apresentam subdivis&otilde;es. O m&eacute;todo presencial pode ser feito em ponto de fluxo, ou seja, os entrevistadores se deslocam para locais onde h&aacute; grande n&uacute;mero de pessoas e conduzem as entrevistas face-a-face. Outro modelo &eacute; a entrevista domiciliar, que requer sorteio de resid&ecirc;ncias ou do mapa de ruas em que ser&atilde;o feitas as coletas de dados. J&aacute; por telefone, a divis&atilde;o ocorre da seguinte forma: os cidad&atilde;o s&atilde;o entrevistados &ldquo;ao vivo&rdquo; ou respondem a grava&ccedil;&otilde;es automatizadas, com perguntas feitas por rob&ocirc;s. Em todos os casos, h&aacute; particularidades e lacunas que podem refletir nos resultados. A pesquisa por telefone, por exemplo, pode excluir eleitores mais vulner&aacute;veis, uma vez que 34,9 milh&otilde;es de brasileiros n&atilde;o t&ecirc;m acesso &agrave; telefonia celular, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic&iacute;lios Tecnologia da Informa&ccedil;&atilde;o (Pnad TIC) 2019.&nbsp;Al&eacute;m disso, outros fatores podem dificultar a participa&ccedil;&atilde;o da popula&ccedil;&atilde;o de classes mais baixas, como menor grau de escolaridade e entendimento dos question&aacute;rios, menor tempo dispon&iacute;vel e at&eacute; falta de acesso a informa&ccedil;&otilde;es sobre as pesquisas, o que pode aumentar a desconfian&ccedil;a.&nbsp;&ldquo;A pessoa pode se recusar a atender o telefone. Vamos supor que a totalidade daqueles que se recusaram a participar fossem eleitores do candidato A, por exemplo. Isso vai ter impacto no resultado final da pesquisa. N&atilde;o quer dizer que n&atilde;o haja recusa no m&eacute;todo presencial, mas &eacute; um problema menos acentuado&rdquo;, pontua o cientista pol&iacute;tico Alberto Carlos Almeida, tamb&eacute;m professor da Universidade Federal Fluminense.&nbsp;Desta forma, se a maior parte do eleitorado de um dos candidatos se diferencia do grupo de pessoas que participa das pesquisas eleitorais por telefone, o resultado pode ser desfavor&aacute;vel ao presidenci&aacute;vel.&nbsp;O m&eacute;todo presencial, por sua vez, tamb&eacute;m pode apresentar lacunas. Leonardo Barreto menciona que o modelo de coleta em ponto de fluxo, por exemplo, pode n&atilde;o abranger eleitores que est&atilde;o nas ruas, embora seja um modelo que traz mais confiabilidade. &ldquo;O Datafolha pode ter um vi&eacute;s porque pega as pessoas que s&atilde;o obrigadas a ir trabalhar, o sorteio de casas pode ser mais dif&iacute;cil porque algumas pessoas n&atilde;o v&atilde;o poder responder, por telefone pode ter a base desatualizada. Fica quase imposs&iacute;vel dizer se tem um m&eacute;todo mais certo, vai depender se voc&ecirc; tiver uma boa amostra e a correta aplica&ccedil;&atilde;o da coleta&rdquo;, argumenta.

O terceiro e &uacute;ltimo ponto que pode explicar os diferentes resultados nas pesquisas eleitorais s&atilde;o&nbsp;vari&aacute;veis externas. Leonardo Barreto menciona que durante a aplica&ccedil;&atilde;o das entrevistas, a ordem das perguntas, por exemplo, pode induzir a resposta dos entrevistados, criando um vi&eacute;s nos resultados. Segundo ele, se o aplicador iniciar a coleta de informa&ccedil;&otilde;es questionando coisas como &ldquo;Voc&ecirc; veio de &ocirc;nibus hoje?&rdquo;, &ldquo;A sua vida tem melhorado ou piorado?&rdquo; ou &ldquo;Voc&ecirc; tem conseguido fazer suas compras?&rdquo;,&nbsp;e, posteriormente, perguntar se aprova, ou n&atilde;o, o governo Bolsonaro, &eacute; poss&iacute;vel que o candidato responda de forma negativa, em raz&atilde;o dos problemas citados nas perguntas anteriores. Ele tamb&eacute;m menciona que outra vari&aacute;vel do cen&aacute;rio pol&iacute;tico e social que n&atilde;o &eacute; considerada pelos institutos &eacute; a influ&ecirc;ncia da opini&atilde;o p&uacute;blica na escolha dos eleitores. &ldquo;H&aacute; uma avalia&ccedil;&atilde;o negativa em rela&ccedil;&atilde;o ao Bolsonaro, ent&atilde;o as pessoas podem estar com vergonha de revelar seu voto. Isso explicaria porque pesquisas pessoais apresentam inten&ccedil;&otilde;es de voto menores a Bolsonaro do que outras pesquisas por telefone ou feitas por grava&ccedil;&atilde;o, onde n&atilde;o a pessoa n&atilde;o se exp&otilde;e, n&atilde;o v&ecirc; o entrevistador&rdquo;.&nbsp;Neste mesmo sentido,&nbsp;Paulo Niccoli Ramirez, cientista pol&iacute;tico da &nbsp;Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), enumera outras vari&aacute;veis inerentes &agrave;s pesquisas que podem impactar nos resultados. Ele lembra que, se a pesquisa &eacute; um recorte moment&acirc;neo do cen&aacute;rio eleitoral, qualquer influ&ecirc;ncia externa, varia&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mica, campanha pol&iacute;tica, alta dos combust&iacute;veis, fake news e at&eacute; facada, podem &ldquo;virar o jogo&rdquo; poucos dias e, por isso, resultados de institutos diferentes n&atilde;o devem ser comparados.&nbsp;&ldquo;Todas as vari&aacute;veis acabam produzindo diferen&ccedil;as nas pesquisas. Um exemplo disso foi o que aconteceu com Bolsonaro em 2018. As primeiras pesquisas que sa&iacute;ram indicavam ele com poucos votos, cerca de 5%. Depois que ele levou a facada, e o Lula j&aacute; preso e descartado do processo eleitoral, deu uma alavancada, ent&atilde;o esses fatores tamb&eacute;m contribuem&rdquo;, explica o pesquisador, que refor&ccedil;a ser &ldquo;normal&rdquo; existirem diferen&ccedil;as. &ldquo;Tudo [isso ocorre] em fun&ccedil;&atilde;o da metodologia. A gente n&atilde;o tem que questionar os resultados, isso &eacute; de momento. A campanha eleitoral na TV e r&aacute;dio n&atilde;o come&ccedil;ou ainda. Pela primeira vez desde a redemocratiza&ccedil;&atilde;o vamos ter uma disputa de presidentes. O eleitor tem experi&ecirc;ncia de duas formas de governar distintas e a campanha eleitoral vai ter um peso muito grande nessa mem&oacute;ria do eleitor e que vai culminar no voto&rdquo;, avalia.&nbsp;

O que as pesquisas mostram agora?

Independente dos m&eacute;todos e das varia&ccedil;&otilde;es dos resultados, os pesquisadores reafirmam que toda pesquisa eleitoral &eacute; um retrato moment&acirc;neo do cen&aacute;rio eleitoral e n&atilde;o antecipa ou sentencia o resultado das elei&ccedil;&otilde;es, ainda que em primeiro turno. Recorrendo a uma met&aacute;fora, &eacute; como se a pesquisa indicasse uma fotografia, enquanto o processo eleitoral, ao final, representar&aacute; um filme.&nbsp;Alberto Carlos Almeida considera que a pesquisa mais &ldquo;fiel&rdquo; quanto aos resultados, &eacute; aquela que antecede a data das elei&ccedil;&otilde;es, uma vez que quanto mais perto, maior a chance de acerto do resultado. Agora, a cerca de dois meses das elei&ccedil;&otilde;es, ele avalia que os levantamentos mostram o&nbsp;humor do eleitorado&nbsp;e esse, dificilmente, deve mudar.&nbsp; &ldquo;A maior parte do eleitorado quer mudan&ccedil;a ou continuidade?&nbsp;A maior parte quer mudan&ccedil;a, ent&atilde;o a pesquisa &eacute; capaz de captar isso. Voc&ecirc; imagina que vai haver mudan&ccedil;a nesse cen&aacute;rio, reta final muita gente se d&aacute; conta das elei&ccedil;&otilde;es, mas esse humor &eacute; mais dif&iacute;cil mudar nos pr&oacute;ximos meses. Se &eacute; de continuidade ou mudan&ccedil;a, isso tende a permanecer&rdquo;, conclui.&nbsp;Com entendimento semelhante, o cientista pol&iacute;tico Leonardo Barreto acrescenta que as pesquisas atuais mostram as &ldquo;pr&eacute;-disposi&ccedil;&otilde;es dos eleitores&rdquo; e como eles enxergam os candidatos, bem como suas cren&ccedil;as e convic&ccedil;&otilde;es. &ldquo;Se nada acontecer at&eacute; 2 de outubro, &eacute; assim que as pesquisas deveriam ser apresentadas, o resultado &eacute; esse. Mas alguns eventos podem mudar a dire&ccedil;&atilde;o desse eleitor, s&atilde;o principalmente tr&ecirc;s: a redu&ccedil;&atilde;o dos combust&iacute;veis, o pagamento dos aux&iacute;lios e a campanha eleitoral. Hoje, o eleitor recebe, por exemplo, uma quantidade &lsquo;X&rsquo; de informa&ccedil;&otilde;es de um pol&iacute;tico. No per&iacute;odo eleitoral, ele vai receber 20 vezes &lsquo;X&rsquo;. Informa&ccedil;&atilde;o pode mudar opini&atilde;o e voto? Pode, e muda&rdquo;, pontua o pesquisador, que alerta: ainda que pesquisas n&atilde;o antecipem resultados, elas podem incentivar comportamentos.

&ldquo;&Eacute; como uma profecia que se auto realiza. O efeito pode se dar sobre financiadores, empres&aacute;rios, partidos. Se a pesquisa mostra que o Lula vence no primeiro turno, mais empres&aacute;rios v&atilde;o querer conversar com ele, candidatos a deputados querem ser da chapa, assim como os partidos. Voc&ecirc; estimula um comportamento que pode levar a um resultado, isso &eacute; bem prov&aacute;vel&rdquo;, finaliza Barreto. Esse aspecto, inclusive, tem norteado boa parte das articula&ccedil;&otilde;es da campanha do ex-presidente Lula, que aposta no chamado voto &uacute;til para liquidar a fatura da elei&ccedil;&atilde;o presidencial no primeiro turno. &Eacute; por isso, por exemplo, que os petistas t&ecirc;m tentado atrair &ndash; mesmo que n&atilde;o oficialmente &ndash; o apoio do maior n&uacute;mero poss&iacute;vel de candidatos e partidos. Nos &uacute;ltimos dias, o PT selou uma alian&ccedil;a com o deputado federal Andr&eacute; Janones (Avante), que soma 2% das inten&ccedil;&otilde;es de voto no Datafolha mais recente e tem um desempenho avassalador nas redes sociais. Em contrapartida, aliados de Bolsonaro miram no pacote de bondades que come&ccedil;ar&aacute; a ser pago nos pr&oacute;ximos dias para, inicialmente, diminuir a rejei&ccedil;&atilde;o ao presidente da Rep&uacute;blica, somar pontos nas pesquisas e empurrar a disputa para o segundo turno, quando o Planalto jogar&aacute; todas as fichas no antipetismo como trunfo para eventualmente conquistar um segundo mandato.&nbsp;

Ainda que os resultados apresentem diverg&ecirc;ncias e vari&aacute;veis, uma vez que cada pesquisa representa o recorte de um momento da sociedade e da vontade do eleitorado, Paulo Niccoli Ramirez defende que &eacute; ineg&aacute;vel a confiabilidade nos m&eacute;todos utilizados e destaca: pesquisa eleitoral tamb&eacute;m &eacute; ci&ecirc;ncia.&nbsp;&ldquo;A gente sempre v&ecirc; uma tend&ecirc;ncia dos pol&iacute;ticos de desmerecer as pesquisas. Isso &eacute; uma estrat&eacute;gia com objetivo de atrair eleitorado, gerar mais debate na sociedade, mas todo pol&iacute;tico sabe que essas pesquisas t&ecirc;m vi&eacute;s cient&iacute;fico. Existe uma ci&ecirc;ncia chamada estat&iacute;stica. Negar os resultados &eacute; negar um procedimento cient&iacute;fico, beira o negacionismo&rdquo;, destaca o cientista pol&iacute;tico, que usa como exemplo a produ&ccedil;&atilde;o de vacinas contra a&nbsp;Covid-19&nbsp;para refor&ccedil;ar: abordagens distintas geram resultados tamb&eacute;m distintos. &ldquo;Vimos diferentes laborat&oacute;rios usando m&eacute;todos diferentes para chegar em um resultado pr&oacute;ximo ou semelhante. A gente v&ecirc; que nem todas vacinas tem o mesmo &iacute;ndice para gerar imuniza&ccedil;&atilde;o, mas n&atilde;o significa que uma &eacute; melhor que a outra, elas foram apenas desenvolvidas sob metodologias diferentes&rdquo;, finaliza. 
 
 
Informa&ccedil;&otilde;s da Jovem Pa

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