08 de Julho de 2025

Visita de Lula e Janja à Favela do Moinho foi articulada com ONG ligada ao PCC, aponta reportagem

Uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da primeira-dama Janja da Silva à favela do Moinho, no centro de São Paulo, realizada no fim de junho, foi articulada por meio de reuniões entre o governo federal e a Associação da Comunidade do Moinho — entidade presidida por Alessandra Moja Cunha, irmã do traficante Leonardo Monteiro Moja, o “Léo do Moinho”, apontado como chefe do tráfico local e preso em agosto de 2023. É o que aponta uma reportagem do Metrópoles.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, a região é dominada pelo PCC, e o imóvel que abriga a sede da ONG foi usado como local de armazenamento de drogas. Documentos obtidos pelo portal mostram que a sede da Associação aparece em investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) como um dos pontos de distribuição de entorpecentes para o centro da capital.

Visita negociada com associação investigada

A visita presidencial foi precedida por encontros entre representantes do governo e a Associação. Dois dias antes da agenda oficial, o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) esteve na comunidade para articular o evento. No local, Lula anunciou um acordo de realocação das cerca de 900 famílias que vivem na área, pertencente à União, para a posterior transformação do terreno em um parque.

Macêdo negou qualquer pauta paralela, afirmando que o diálogo foi exclusivamente sobre a solução habitacional. “O diálogo com lideranças comunitárias é parte fundamental da atuação de qualquer governo comprometido com políticas de inclusão social, habitação e valorização da cidadania”, declarou por meio de nota.

A agenda da visita também registra a presença de outras autoridades, como a secretária-executiva da Secretaria-Geral, Kelli Mafort, e representantes dos ministérios dos Direitos Humanos, Cidades, Justiça e Gestão.

Associação na mira da Justiça

A sede da associação está registrada no número 20 da Rua Doutor Elias Chaves — endereço onde a Polícia Civil apreendeu, em 2023, cinco tijolos de cocaína, 608 porções de crack e 98 porções e três tijolos de maconha. O local aparece na denúncia do MP-SP como ponto logístico do tráfico. O endereço também consta na agenda oficial de Márcio Macêdo.

A presidente da entidade, Alessandra Moja Cunha, de 40 anos, foi condenada por homicídio em 2005 após esfaquear uma mulher e tentar matar um homem. Parte da pena foi cumprida em regime fechado. Outros membros da família, incluindo irmãos e sobrinhos, também foram denunciados por ligação com o PCC.

Segundo o Gaeco, “a família Moja se aproveitou da desorganização e ausência do Estado naquela região para instalar um ambiente de várias práticas criminosas, que se retroalimentam dentro da clandestinidade e que violam direitos humanos básicos das pessoas que lá se encontram”.

Encontros com o governo desde 2024

Desde novembro de 2024, representantes da Associação participaram de ao menos cinco reuniões com integrantes do governo federal. Os encontros foram intermediados inicialmente por Celso Santos Carvalho, superintendente da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) em São Paulo. Ele também acompanhou a visita do ministro Macêdo à favela.

Em maio deste ano, a própria Alessandra publicou um vídeo em que aparece em reunião com integrantes do governo federal. Na gravação, menciona “a ministra Kelli”, em referência à secretária-executiva da Secretaria-Geral. A filha de Alessandra, Yasmin Moja — sobrinha de Léo do Moinho — também atuou como representante da associação em algumas ocasiões.

Parlamentares do PT e do PSOL estiveram presentes em reuniões e visitas à comunidade. Moradores aparecem nos registros entoando frases como “Salva o Moinho!” e “Moinho resiste!”.

Segurança da comitiva e posicionamento do governo

Questionado sobre os riscos à integridade do presidente e da comitiva, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) informou, por meio da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), que a segurança foi conduzida “de forma rigorosa” e dentro dos protocolos usuais para agendas presidenciais. “Não foi identificado qualquer risco à integridade das autoridades presentes”, afirmou a pasta.

A Secom acrescentou que “a interlocução com representantes comunitários é prática essencial de qualquer governo que atue com políticas públicas voltadas à inclusão, moradia e promoção da dignidade”.

Ainda segundo a Secretaria, o contato direto com o presidente ocorreu por meio de Flavia Maria da Silva, liderança da comunidade “com trajetória reconhecida e idônea”, sem detalhar o envolvimento da entidade de Alessandra Moja na mediação da agenda.

O Diretório Estadual do PT e a assessoria da primeira-dama Janja não se manifestaram até o fechamento da reportagem.

 

Informações do Conexão Política  / Foto: Ricardo Stuckert/PR

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