23 de Novembro de 2024

Assessor de Moraes orienta “troca” da origem de relatórios contra aliados de Bolsonaro em áudio

O juiz Airton Vieira, principal assessor do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), admitiu preocupação com relação aos procedimentos adotados pelos gabinetes do ministro no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - solicitações e produção de relatórios com informações sobre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e comentaristas políticos de direita para o inquérito das fake news, durante e depois das eleições de 2022 - em conversa por áudio via WhatsApp com o perito Eduardo Tagliaferro, que à época era o chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), do TSE. Os áudios foram publicados pelo jornal Folha de S. Paulo em reportagens que abordaram o tema nesta terça-feira (13).

Em um dos áudios, Vieira afirmou ser necessário passar a dizer que o pedido de produção dos relatórios tinha como origem o TSE e não o gabinete do STF. "Formalmente, se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada, digamos assim. Como um juiz instrutor do Supremo manda [um pedido] pra alguém lotado no TSE e esse alguém, sem mais nem menos, obedece e manda um relatório, entendeu? Ficaria chato", disse.

Vieira enviou as mensagens para Tagliaferro no dia 10 de outubro de 2022, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, e demonstrou o receio de ambos em relação aos relatórios. O setor de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria sido usado como uma espécie de braço investigativo do gabinete do ministro para a investigação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na ocasião, Vieira já tinha solicitado relatórios para Tagliaferro que foram produzidos e enviados com o timbre do STF. Em seguida, ele encaminhou nova mensagem solicitando um outro documento, que havia sido pedido dias antes.

Tagliaferro enviou, então, um relatório sobre vídeo postado pelo "Grupo Brasil Conservador" questionando a integridade das urnas eletrônicas, timbrado em nome do STF, com a descrição "Relatório Técnico 10/10/2022". Ele também enviou prints do vídeo e do grupo onde foi compartilhado e pediu para que Vieira "veja se está ok". O juiz respondeu pedindo para mudar a autoria do documento, do STF para o TSE, e afirmou ter conversado com Cristina Yukiko Kusahara Gomes, chefe de gabinete de Moraes no STF, a respeito da necessidade desse procedimento.

A Folha teve acesso a mais de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp entre assessores do ministro que atuam ou atuavam tanto na equipe do Supremo quanto do TSE.

De acordo com o jornal, os áudios foram obtidos com fontes que têm acesso legal aos dados de um telefone com as mensagens. O veículo informou que não foram utilizadas técnicas ou ferramentas de interceptação ilegal ou uso de hacker.

 

Informações da Gazeta Brasil / Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

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