Em seis meses, Bahia registra mais de 35 mil casos de dengue
O alto índice de casos de dengue na Bahia tem chamado atenção de entidades de saúde, especialistas e até da própria população, que nos últimos meses tem frequentado unidades de saúde superlotadas de pacientes com os mesmos sintomas da doença.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), em 2023, no período de 1º de janeiro a 15 de julho, foram notificados 35.567 casos prováveis de dengue no estado, sendo 7.939 somente em Salvador.
No mesmo período de 2022, foram notificados 30.163 casos prováveis, o que representa um incremento de 17,9%. Isso significa um aumento alarmante, já que 23 municípios decretaram situação epidêmica, quando analisadas as últimas quatro Semanas Epidemiológicas (SE). Além disso, a Saúde informou que já são nove mortes confirmadas pela Câmara Técnica Estadual de Investigação de Óbito.
Houve um aumento de 168% nas formas graves da dengue, em comparação com o primeiro semestre do ano passado, com 670 casos contra 250, porém a quantidade de mortes no mesmo período diminuiu: De 20 para 10 casos, uma redução de 50%.
Em entrevista ao Portal A TARDE, o coordenador de infectologia do Hospital Mater Dei, Victor Castro Lima, afirmou que este aumento se deve ao período de chuvas, principalmente na região metropolitana de Salvador.
“As chuvas, junto com as temperaturas quentes, levam a um clima justamente quente e úmido que é muito favorável à proliferação dos reservatórios do mosquito Aedes aegypti, que é o mosquito vetor e transmissor da dengue. Com a proliferação desses reservatórios, tem mais mosquitos que picam pessoas infectadas e acabam transmitindo para outras”, explicou o infectologista.
Entre os milhares de casos na capital baiana, está o de Eduardo Rodrigues e o seu filho Filipe, de apenas 15 anos, que teve a doença diagnosticada na última quarta-feira, 19, após várias idas ao hospital.
“Ele estava se queixando de dor na barriga, muita febre, diarreia, enjoo e pressão sanguínea baixa. Quando aferimos estava em 90/30. Imediatamente o levamos a um hospital particular, onde foi diagnosticado uma bactéria no intestino, na madrugada de domingo, 16. Depois, ele começou o tratamento com antibiótico e, com três dias, a febre não havia melhorado e decidimos retornar ao hospital, onde foram realizados novos exames de sangue, e, desta vez, chamou atenção da médica o nível baixo de plaquetas dele. Foi quando ela decidiu fazer o teste de dengue que deu positivo”, relatou ao Portal A TARDE.
O infectologista explicou ainda que existem duas formas principais de evitar a dengue. “A primeira forma mais comum são as medidas comportamentais. O uso de roupas, camisas de manga comprida, calças, uso de sapatos fechados, uso de sapatos em casa, repelente para evitar o contato com o mosquito e obviamente limpar os reservatórios, evitar água parada em casa nos vasos de plantas, nos pneus", pontuou.
Além disso, o doutor explicou que uma outra alternativa é a vacina da dengue, mas com um fator limitante.
“Nós já tínhamos uma vacina disponível no Brasil, mas era um uso muito restrito, com indicações muito restritas. A partir deste ano nós temos uma outra vacina aprovada pela Anvisa e que já está disponível, porém com a grande limitação de não estar disponível ainda na rede pública, apenas nas clínicas particulares. Existem algumas especificações, como a faixa etária que vai dos 4 aos 60 anos, e a restrição para pessoas com a imunidade baixa, pessoas gestantes e pessoas que estão amamentando, por exemplo", apontou.
"Porém ela tem um benefício importante e é indicada tanto para pessoas que já tiveram dengue previamente, como para pessoas que nunca tiveram dengue. Acaba sendo um recurso a mais para a gente evitar a doença e consequentemente os sintomas”, detalhou.
O infectologista apontou ainda que apesar da doença ser infecciosa, não é transmitida de uma pessoa para a outra diretamente.
“A forma de transmissão da dengue é através da picada do mosquito Aedes aegypti, que pica uma pessoa contaminada, faz o repasto do sangue contaminado dessa pessoa com o vírus e o leva para outra, através da picada”.
Profilaxia
Mesmo com todos esses cuidados, Filipe Rodrigues não passou ileso da doença. Segundo seu pai, Eduardo, a casa não tem espaços que acumulem água ou qualquer outra estrutura que possa atrair o mosquito transmissor.
Além disso, denunciou que vigilantes epidemiológicos não fazem visitas frequentes no bairro em que moram, para tentar erradicar o inseto.
A diretora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), Márcia São Pedro, explicou, no entanto, que cabe aos municípios realizarem essa programação e prevenção na casa da população baiana.
“O papel do município é verificar o índice de infestação predial, fazer a limpeza urbana, assim como identificar e tratar focos de dengue. Porque tem, sim, o inseticida. É fornecido pelo Ministério da Saúde ao estado e é responsabilidade da secretaria distribuir para os municípios".
Questionada pela reportagem do Portal A TARDE sobre as notificações em Salvador e as medidas que a Secretaria Municipal da Saúde adota para mitigar os efeitos da doença na cidade, a pasta informou que “cotidianamente o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) promove uma série de ações preventivas e de inspeções contra o mosquito Aedes nos doze Distritos Sanitários de Salvador. Além de mutirões, atividades educativas, e operações especiais, envolvendo mais de mil Agentes de Endemias”, explica um trecho da nota enviada ao portal.
A Secretaria Municipal da Saúde esclareceu ainda que a Dengue, a Chikungunya e a Zika são arboviroses consideradas de relevância epidemiológica e demandam ações intersetoriais e interinstitucionais, que vão além do âmbito da atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Com a circulação concomitante dos três vírus desde 2014, o cenário tornou-se desafiador e demandou respostas rápidas de enfrentamento”.
O objetivo da notificação compulsória dos casos suspeitos, segundo a SMS, mesmo sem a confirmação laboratorial, é oferecer à rede informações para planejamento e organização assistencial, tomadas de decisões e implantação em tempo oportuno de medidas de controle necessárias para evitar a ocorrência de surtos.
E quando procurar um especialista?
Sentiu algum sintoma e está em dúvida de quando procurar ajuda médica? O infectologista Victor Castro alerta que a dengue pode evoluir para casos graves, e que, ao manifestar sintomas compatíveis, é importante procurar uma avaliação médica para fazer a categorização do risco.
“Às vezes, os sintomas podem começar brandos e acabarem se agravando. É importante também receber orientações sobre as medicações adequadas que podem ser utilizadas, sobre a hidratação e os sinais de alarme. Então, toda pessoa com sintomas suspeitos de dengue deve procurar uma avaliação médica", indicou.
"E só para reforçar, os sintomas mais importantes que levam a uma suspeita de dengue são febre alta, dores no corpo, dores nas juntas, dores de cabeça, manchas na pele, diarreia, dor no fundo dos olhos. Então, todos esses são sintomas que devem levar a suspeita da dengue”.
Informações do jornal A Tarde / Foto: Denisse Salazar | Ag. A TARDE
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