24 de Novembro de 2024

Moradores vendem casas para fugir da violência no Santo Antônio Além do Carmo

Uma região que possui muita beleza com as cores das casas, arte, várias opções de bares e restaurantes, além de uma vista única para a Baía de Todos-os-Santos. O Santo Antônio Além do Carmo é hoje o queridinho dos turistas e até de gente famosa, que está de mudança para o bairro, além é claro de muitos soteropolitanos. Porém, tanto charme e badalação acaba atraindo também a criminalidade. Por causa da incidência de furtos, roubos e arrombamentos neste ano, há moradores que decidiram vender suas residências. Eles contabilizam uma média de três ocorrências por dia, e um assassinato elevou ainda mais a sensação de insegurança na vizinhança.  

“Não dá mais para ficar aqui. Meu carro já foi arrombado duas vezes. Eu moro aqui com a minha esposa. Quando uma de minhas filhas vem, tenho que ficar da janela, pra ela não ser surpreendida por alguém armado querendo a bolsa, o celular e o que ele tiver dentro do carro”, contou o aposentando Raimundo Jorge, 68 anos, que está com a casa de dois andares à venda há dois meses na Ladeira do Baluarte.

Ainda de acordo com Seu Raimundo, outros imóveis estão à venda pelo mesmo motivo. “Só aqui na ladeira, tem vários moradores se desfazendo de suas propriedades. Ninguém aguenta mais. O meu vizinho aqui conseguiu vender tem pouco tempo. Uma pousada fechou porque os hóspedes eram abordados quando estavam na porta ou quando chegavam de algum lugar. O dono é um estrangeiro que desistiu do negócio”, disse, apontando para o estabelecimento que está com a placa “vendo”, bem defronte à sua residência.  

Outra moradora contou que em janeiro deste ano, um grupo de sete franceses foi assaltado assim que saiu de sua casa.

No bairro há mais de 10 anos, Rogério Barreto confirma que alguns moradores estão desfazendo dos seus imóveis por causa da insegurança. Ele disse que a grande maioria dos casos de furtos, roubos e arrombamentos são praticados por usuários de drogas.

“Chegam aqui e levam tudo o que tiver na frente. Há dois dias levaram as correntes que reforçam o meu portão. Não sei como conseguiram. Quando acordei, vi que já tinham levado, provavelmente venderam para comprar droga. Eles agem na área toda. Todas essas ocorrências são feitas por eles”, declarou Barreto. 

Assassinato

O Santo Antônio Além do Carmo não tem a  mesma frequência de crimes contra a vida em relação a outros bairros de Salvador. Porém, no dia 10 deste mês, um assassinato na Ladeira do Baluarte aumentou ainda mais o medo de quem mora da região. Washington Mário Rocha Coelho, 60, foi encontrado morto, dentro de casa, vítima de espancamento. 

“Ele era uma pessoa de pouco conversa. A casa era herança de família e ele morava com um homem e uma mulher, que lavavam carros por aqui. Depois da morte, eles sumiram. Se a situação já estava ruim com esses roubos, agora piorou”, declarou um dos vizinhos da vítima.

Questionada se o casal era usuário de drogas e se cometia furtos e roubos no bairro, a fonte responde que provavelmente sim: “todos os dois tortos. Faziam um monte de coisa errada”. 

Já a Polícia Civil disse que o caso é investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios/BTS e que a “autoria e motivação não estão definidas”.

Vídeos

A Ladeira do Baluarte liga o Santo Antônio Além do Carmo ao bairro do Barbalho. Subindo a via, chega-se ao Largo do Santo Antônio Além do Carmo, onde está a igreja que leva o mesmo nome – o local é o ponto alto do turismo, onde há também o tradicional Forte da Capoeira.

E foi no largo que recentemente um flagrante de furto circulou nas redes sociais. Vídeos mostram o momento em que um casal arromba um carro e furta o som, por volta das 5h do dia 20 deste mês. 

Enquanto a mulher observava a movimentação, o homem forçava a porta do lado do carona. Cerca de um minuto depois, o casal desceu correndo a Ladeira do Baluarte.

A reportagem conversou com o dono do veículo. Segundo ele, nem a polícia e nem as câmeras intimidam mais. “Na hora, acordei com o barulho de alguém forçando o meu carro. Quando cheguei à janela, tava ele lá, já dentro do carro, nem aí para a câmera que estava posicionada na direção deles. Comecei a gritar ‘pega ladrão’, que ia chamar a polícia, ele nem aí. Quando arrancou o som, os dois fugiram”, contou. 

No dia 16 deste mês, outra câmera registrou um homem carregando um reservatório de água. “Ele pulou um muro de uma casa aqui da ladeira (do Baluarte) e saiu caminhando durante o dia, como se nada tivesse acontecido. Eles aqui levam de tudo”, relatou o morador.

Segundo o dono do carro, a média é de três ocorrências por dia. “Nós temos um grupo de WhatsApp que serve para informar os acontecimentos no bairro, e toda hora tem relatos, vídeos e fotos relacionados à insegurança no Santo Antônio. É lastimável”, lamentou. 

Rua Direita

Na Rua Direita do Santo Antônio Além do Carmo, trecho concentrado de bares e restaurantes, algumas casas também estão à venda por causa da falta de segurança.

“Parte quer se desfazer porque não há mais a tranquilidade de antes, por causas dos eventos aqui. Outros, querem se livrar em decorrência dos assaltos mesmo. Meu genro já foi assaltado mais de uma vez a caminho do ponto de ônibus. Isso aqui está terrível. Se alguém vem nos visitar, tenho que ir buscar no ponto, porque duas pessoas ficam mais difícil eles agirem. São duas, três ocorrências por dia, isso é o que a gente sabe”, declarou a moradora Maria de Lourdes.

De acordo com ela, há imóveis sendo comercializados pelos mesmos motivos nas ruas dos Perdões e Carvões. 

Por conta da riqueza cultural, o bairro se consagrou como ponto turístico e opção de lazer em Salvador. Com isso, houve a ampliação de bares, restaurantes, além de espaços para eventos (até o pátio da igreja recebe festas).

“O que é que aconteceu? O Santo Antônio está muito em evidência e isso atrai pessoas para roubar. É um bairro que está tendo muitos eventos, muitas casas viraram comércio, inclusive de moradores. Como atrai gente, principalmente que traz gente de classe média, média alta, eles (bandidos) querem assaltar. O que a gente precisa é de mais segurança, mais policiais”, declarou Tânia Pastore, conselheira comunitária. 

Polícia

De acordo com a Polícia Militar, o patrulhamento na região “é desempenhado 24 horas diariamente por policiais, que realizam rondas preventivas e também atuam mediante acionamento”. “O Batalhão alerta a importância do cidadão acionar os canais institucionais (190 ou 181, válido para toda a Bahia) para relatar qualquer fato que fuja à normalidade. Equipes do Batalhão Especializado de Polícia Turística (Beptur) e guarnições da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp BTS também reforçam as ações ostensivas no bairro”, completa comunicado enviado pelo departamento de comunicação da PM. 

O CORREIO perguntou à Polícia Civil sobre os registros de ocorrências no bairro, mas até a publicação da reportagem, não houve retorno. 

 

Informações do Correio* / Foto: Bruno Wendel /Correio*

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