Na capital da violência, mortes na fila da regulação superam número de homicídios
Nada é tão ruim que não possa piorar. O velho brocardo aplica-se bem à situação de Feira de Santana, a maior cidade do interior da Bahia, com uma população superior a 650 mil almas, de acordo com a prévia do Censo 2022 divulgada na semana passada pelo IBGE. Lá, para morrer, basta estar vivo, como diz outro ditado antigo.
Não, meu caro leitor, ainda não chegamos àquela situação limite retratada por João Cabral de Mello Neto no poema Morte e Vida Severina, um clássico da literatura brasileira. No poema, o retirante Severino, em sua jornada desde a Serra da Costela, onde nasceu, até o Recife, é advertido que naquelas paragens a morte é tanta que só é possível trabalhar naquelas profissões que dela fazem ofício ou bazar.
Ainda não, mas o simples ato de viver é cada vez mais perigoso em Feira de Santana. A cidade no ano passado registrou 327 vítimas de homicídio, consolidando a nada honrosa posição de capital baiana da violência, conquistada em 2021, considerando os municípios com mais de 100 mil habitantes, segundo a última edição do Anuário 2022 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – no ranking nacional, apareceu na terceira posição.
Como se não bastasse, a essas vítimas da violência somaram-se outras 438 pessoas que morreram na fila da regulação, aguardando vaga em um hospital, conforme revelou o prefeito Colbert Martins, em um vídeo veiculado ontem, dia 12, nas redes sociais.
O prefeito, que é médico, vem apontando o agravamento dos problemas na regulação há alguns anos e na semana passada voltou a fazê-lo. Foi o bastante para a diretora da Central Estadual de Regulação de Saúde, Rita Santos, desmenti-lo, afirmando que as declarações do prefeito são levianas e não refletem a realidade.
Na tréplica, Colbert gravou o vídeo citando os números de um levantamento produzido pela Secretaria Municipal de Saúde, o qual aponta o total de mortes de pacientes locais que estavam na fila da regulação ao longo do ano passado.
Mas o problema é antigo e o bota-boca não resolve nada. Como bem sabe a atenta leitora, o sistema funciona mais ou menos assim: todos os casos de pacientes atendidos nas unidades de saúde de baixa e média complexidade que necessitem de assistência médica de alta complexidade – serviços prestados geralmente pelos hospitais gerais ou pelos especializados – são comunicados à central de regulação, que se encarrega de procurar a vaga e autorizar o internamento.
Só que, algumas vezes, a demora para encontrar uma vaga em um hospital é tão grande que o paciente acaba morrendo antes de ser internado. Tanto que a regulação ganhou o nome de fila da morte, dado pelo povo, que, em sua infinita sabedoria, sabe muito bem onde o calo lhe aperta.
Não se trata, portanto, de uma questão meramente política, como as duas partes envolvidas na discussão alegam. Inclusive porque não se restringe a Feira de Santana, cidade governada por um prefeito que faz oposição ao governador do Estado. A fragilidade do sistema se manifesta em todo o Estado e certamente de forma mais aguda nos pequenos municípios das regiões mais distantes da capital.
Ou seja, o governo estadual pode até dizer que não tem fila, mas que há pessoas morrendo enquanto aguardam vaga em um hospital, isso ninguém pode negar. O primeiro passo para encontrar uma solução, vamos convir, é reconhecer de imediato que existe o problema. Escamoteá-lo não conduz a nada – a não ser a mais mortes.
Artigo do site Informe Baiano
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