Cerca de mil jovens brasileiros cometem suicídio a cada ano
Cerca de mil crianças e adolescentes, entre dez e 19 anos, cometem suicídio no Brasil a cada ano, aponta levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) entre 2012 e 2021. A média anual de 995 casos está abaixo dos números absolutos computados a partir de 2017, quando o Brasil teve 1054 registros de suicídio ou morte por lesões autoprovocadas intencionalmente.
Retirados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, os dados compilados pela SBP mostram o crescimento contínuo dessas ocorrências a partir de 2015. Na década considerada, os casos estão concentrados na faixa etária dos 15 aos 19, com 84,29% do total dos óbitos (8.391), enquanto as vítimas entre 10 e 14 anos correspondem a 15,71% (1.563 mortes).
No último ano da série histórica considerada (2021), o Brasil teve 1.297 suicídios de crianças e adolescentes, um aumento de 60% em relação a 2012, início do período considerado. Embora o percentual precise ser contextualizado com o crescimento populacional e o avanço no sistema de notificação de casos, é suficiente para deixar a sociedade em alerta.
Na Bahia, a década estudada somou 405 registros, com aumentos e reduções ao longo do período. O pico foi observado em 2020, com 65 casos, enquanto 2018 e 2013 empataram na posição de menor ocorrência, com 27 suicídios a cada ano. Estado com maior população do País, São Paulo teve o maior número total entre 2012 e 2021, com 1.488 óbitos por lesões autoprovocadas intencionais.
Na divulgação do levantamento, a SBP enfatizou a necessidade de estudos “sobre as razões subjacentes a esse aumento para implementar estratégias de prevenção eficazes”. A entidade sinalizou que traumas, abusos e violências sofridos, além de sentimento de culpa e de inadequação estão entre os fatores que podem levar crianças e adolescentes ao sofrimento psíquico e posteriormente à ideação suicida.
Alerta
Presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), Cefas Gonçalves alerta que o suicídio entre adolescentes não é algo raro no Brasil, nem no mundo. No seu cotidiano profissional, atua como pediatra intensivista e hebiatra. Vale lembrar que a hebiatria é uma subespecialidade da pediatria com foco na saúde dos adolescentes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta causa de morte mais recorrente, sendo superada apenas por acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Gonçalves afirma que cerca de 50% dos transtornos psíquicos surgem até a adolescência e muitas vezes acabam não sendo diagnosticados, o que acaba se somando aos desafios típicos desta etapa. “Fora a questão da saúde mental, tem coisas comuns, que fazem parte da adolescência, como as contradições de pensamento, as mudanças do próprio corpo, as mudanças hormonais, as mudanças psicossociais”, comenta.
Mudanças bruscas de comportamento, isolamento constante e intenso, comentários autodepreciativos, dificuldades de socialização e crises de choro frequente estão entre os possíveis sinais de que aquele adolescente está enfrentando um sofrimento psíquico. “Uma característica importante na adolescência é a irritabilidade, muitas vezes a depressão não vai se manifestar apenas com tristeza”, acrescenta.
“Aquele adolescente que tem muita alteração de sono, tem um sono excessivo, só fica dormindo, que tem falta de vontade de fazer as coisas, ele não tem perspectiva de um futuro a curto prazo, a médio e a longo. Então ele não pensa em fazer um vestibular, não pensa na festa de um amigo que está chegando. Essa falta de alegria nas pequenas coisas da vida também está associada a transtornos depressivos”.
A vivência profissional de Gonçalves confere mais complexidade aos dados compilados pela SBP quanto ao gênero da criança ou adolescente que dá fim à própria vida. O levantamento aponta que a incidência no sexo masculino é superior ao dobro do registrado no feminino, somando 68,32% dos casos (6.801), enquanto 3.153 registros tiveram meninas e garotas como vítimas. “As meninas tentam mais o suicídio, mas com métodos menos letais”, pondera.
Quando a presença de ideação suicida é percebida, essa criança ou adolescente precisará de um acompanhamento multidisciplinar, explica o especialista, envolvendo pelo menos um pediatra/hebiatra, um psicólogo e um psiquiatra. “A gente sempre tenta ver o que pode trazer bem-estar para esse paciente. Se o adolescente gosta de fazer algum esporte, alguma atividade física, alguma atividade cultural, pintar, desenha. Isso é importante também”, completa.
Se a ajuda médica é procurada após uma tentativa de suicídio, o primeiro passo, segundo Gonçalves é avaliar o grau de risco de um novo episódio, sobretudo a partir de um misto de conversa e entrevista com esse paciente. Se o risco de nova tentativa for considerado alto, a recomendação é internar o adolescente em um hospital ou clínica até que seja alcançada uma maior estabilidade.
Quando o risco é considerado baixo ou moderado, o paciente pode voltar para casa, mas os pais são orientados a manter atenção constante e retirar do alcance do adolescente, ou criança, qualquer coisa que possa servir para causar danos físicos em si. “A gente sempre dá também autonomia para o adolescente, a gente vai ouvir o que ele pensa, seus valores, suas crenças, para tentar ir nesse caminho juntos e promover uma saúde mais adequada”.
Informações do jornal A Tarde / Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE
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