07 de Maio de 2024

Despesa com benefício assistencial é a maior da história

A despesa do governo federal com o pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC) foi o maior da história no ano de 2023, tanto em valor nominal quanto em proporção do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, a despesa com o programa e com o antigo Renda Mensal Vitalícia (RMV) no ano passado chegou a R$ 92,67 bilhões, o equivalente a 0,85% do PIB. Em 2022, o valor dispendido com a rubrica havia sido de R$ 78,83 bilhões (0,78% do PIB). Em termos nominais, isso corresponde a uma alta de 17,5% em um ano.

Parte do crescimento na despesa se deve à política do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de aumento real do salário mínimo, que subiu de R$ 1.212, em 2022, para R$ 1.302 em 2023, uma elevação nominal de 7,43%.

Mas houve ainda crescimento na base de beneficiários do BPC, que também foi recorde no ano passado. Ao todo, de acordo com dados da Controladoria-Geral da União (CGU), receberam ao menos uma parcela do programa 5,89 milhões de pessoas em 2023, ante 5,45 milhões no ano anterior, o que representa expansão de 8,1% na lista de beneficiários.

No início do mês, o presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanuto, anunciou que fará um processo de pente-fino na base de dados de vários benefícios sociais, a começar pelo BPC.

Considerado uma espécie de “aposentadoria” para quem não contribuiu o suficiente para a Previdência, o BPC é uma garantia no valor de um salário mínimo concedida a idosos (65 anos ou mais) e a pessoas com deficiência que tenham renda per capita familiar inferior a um quarto do salário mínimo.

Para ter direito ao benefício, é preciso estar inscrito no Cadastro Único. Além disso, pessoas com deficiência passam por avaliação médica e social no INSS, responsável pela operacionalização do programa. Por não exigir contribuição para o órgão, não é considerado benefício previdenciário e, portanto, não inclui 13º salário nem deixa pensão por morte.

O BPC é pago desde 1996 em substituição à Renda Mensal Vitalícia (RMV), benefício previdenciário criado em 1974 e destinado a maiores de 70 anos e “inválidos” que não exerciam atividade remunerada e não tinham rendimento superior a 60% do salário mínimo. A RMV é considerada um benefício em extinção, mas ainda é paga para quem já era beneficiário até 31 de dezembro de 1995.

Em 2020, o Congresso aprovou projeto de lei que aumentou de um quarto de salário mínimo para meio salário mínimo o limite de renda familiar per capita para acesso ao BPC – o que elevaria o número de pessoas aptas a receber o benefício. À época, o então secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco Leal, estimou um impacto de R$ 217 bilhões nas contas públicas em dez anos.

O então presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou o trecho, mas teve o veto derrubado. A mudança, no entanto, foi barrada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que acatou pedido feito pelo governo e deu medida cautelar, garantindo amparo legal para que a ampliação do BPC não fosse cumprida.

A decisão foi tomada com base em acórdão de 2019 que impede a execução de quaisquer despesas sem previsão no Orçamento anual e sem a indicação de fonte da despesa adicional.

Em 2021, no entanto, uma nova lei aprovada e sancionada por Bolsonaro ampliou novamente o alcance do BPC para quem tem renda familiar per capita de até meio salário mínimo, porém, desde que atenda a critérios como:

  • dependência de terceiros para realizar atividades básicas da vida diária; e
  • gastos com tratamentos, medicamentos, fraldas e alimentos especiais não disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou serviços não prestados pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS), desde que comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.

No processo de revisão dos benefícios do INSS anunciado no início do mês, o órgão deve iniciar com um balanço para determinar quais benefícios considerados “consolidados”, como os destinados a dependentes com autismo, estarão isentos de revisão.

Posteriormente, os demais beneficiários serão convocados, a partir de maio, para perícia médica e comprovação de renda familiar, visando identificar possíveis acumulações de benefícios ou rendimentos indevidos.

A revisão de sobreposições nos cadastros de benefícios assistenciais é uma medida defendida por analistas fiscais como uma forma de redução de despesas da União.

O economista Gabriel Leal de Barros, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) e atualmente sócio da Ryo Asset, calcula que a integração e o redesenho de programas como Bolsa Família, Farmácia Popular, salário família, salário maternidade, seguro defeso, auxílio-reclusão e Benefício de Prestação Continuada (BPC) poderiam render uma economia fiscal de R$ 185,4 bilhões em dez anos.

 

Informações da Gazeta do Povo / Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo

Whatsapp

Ultimas notícias

Galeria

Bahia Farm Show apresenta exposição fotográfica sobre as belezas do Oeste da Bahia
Exposição aproximará startups agrícolas de investidores privados
Ver todas as galerias

Artigos