29 de Abril de 2024

Comerciantes obedecem toque de recolher mesmo com a polícia

A mensagem enviada por traficantes de drogas para moradores do Alto das Pombas e Calabar, na manhã de segunda-feira (4), era clara: ninguém deveria sair de casa depois das 15 horas. A presença ostensiva de agentes de segurança que tentam conter a violência não foi suficiente para que comerciantes ignorassem o toque de recolher, determinado pelo poder paralelo. Quase nenhum comércio abriu durante o dia, mais de 1,1 mil alunos ficaram sem aulas e serviços essenciais sofreram os reflexos do confronto armado.

Em um dia normal, os comerciantes estariam com as portas abertas na Rua Teixeira Mendes, que marca o início da localidade Alto das Pombas. Depois da madrugada de tiroteios e confrontos entre traficantes e policiais, no entanto, foram poucos os que tiveram coragem de funcionar. Não havia sinal de movimento nos salões de beleza, padarias, lanchonetes, lojas e restaurantes da região. Além do Cemitério Campo Santo, duas funerárias da rua eram uns dos únicos estabelecimentos que se mantinham abertos. No Calabar, a situação era a mesma durante a tarde.

A escalada de violência que culminou no cenário de abandono na segunda-feira (4) é resultado do conflito armado entre traficantes do Comando Vermelho (CV) e do Bonde do Maluco (BDM), que atualmente comanda o tráfico na região. Quem vive no local estava assustado com os crimes cometidos durante o dia. “Moro no Alto das Pombas há 23 anos e nunca vi nada parecido. Não dormi a noite toda por causa dos tiros”, contou uma mulher que preferiu não se identificar. Por volta das 15 horas, ela trabalhava em um dos poucos comércios que se manteve aberto na Rua Caetano Moura. Apesar disso, a previsão era de que o hortifruti fechasse as portas mais cedo, antes das 17 horas.

Educação

Estudantes também foram prejudicados com a violência. Ao todo, 1.042 alunos da rede municipal de Salvador tiveram aulas suspensas. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), as escolas Conjunto Assistencial Nossa Senhora de Fátima, Casa da Amizade, Professor Antônio Onofre e os Centros Municipais de Educação Infantil Tertuliano de Góis e Calabar suspenderam as atividades.

As escolas da rede estadual abriram, mas tiveram pouca frequência de alunos, de acordo com a Secretaria de Educação da Bahia (SEC). Pelo menos uma instituição particular, o Colégio Antônio Vieira, localizado no Garcia, também dispensou os 155 alunos que frequentam as atividades durante a noite. Segundo a assessoria da instituição, as aulas são ministradas para estudantes bolsistas integrais durante o turno. "Alguns alunos e colaboradores moram nessas áreas, então a escola suspendeu o turno noturno", declarou.

Diante da insegurança, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) recomendou a suspensão das aulas e atividades administrativas na segunda-feira (4), nos campi de Ondina, Canela, São Lázaro e Federação. Algumas unidades, como a Faculdade de Comunicação, em Ondina, determinaram que as aulas de terça-feira (5) e quarta-feira (6) sejam realizadas de forma remota. A decisão foi tomada depois de reivindicações dos próprios alunos.

Saúde

Na área da saúde, dois postos do bairro tiveram as atividades suspensas: a Unidade de Saúde da Família (USF) Calabar e a Unidade de Saúde da Família (USF) Alto das Pombas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), as equipes também vão verificar a situação de segurança no local para avaliar a retomada dos serviços.

Ainda no campo da saúde, o Centro de Referência e Assistência Social (Cras) da Federação interrompeu o atendimento nesta terça, conforme informado pela Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre). Ainda não há informações se o Centro vai funcionar na terça.

Medo faz templos religiosos fecharem as portas

O conflito armado que não deu trégua durante o domingo (3) e a segunda-feira (4) não poupou sequer os espaços sagrados. Ao menos uma igreja e um centro espírita anunciaram a interrupção das atividades em decorrência do medo que assola a região. A Paróquia do Divino Espírito Santo, no Alto das Pombas, suspendeu a missa que ocorre às 18 horas, aos domingos. Na segunda-feira (4), já é de costume que as atividades não aconteçam no local.

A Arquidiocese de Salvador não informou se outras igrejas foram impactadas pela insegurança. Já o Grêmio Espírita Perseverança e Caridade (Gepec), na Graça, não funcionou na segunda-feira (4). Em comunicado publicado nas redes sociais, o centro espírita justificou a suspensão como forma de “garantir a segurança de trabalhadores, frequentadores e colaboradores”.

Questionada, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) afirmou que os ônibus não alteraram seus trajetos em decorrência do confronto no Alto das Pombas e Calabar. A Polícia Militar afirmou, durante o início da noite, que equipes da 41ª CIPM, Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp Atlântico, do Batalhão de Patrulhamento Tático Móvel (BPatamo) e do Grupamento Aéreo (Graer) seguiam no local com as ações intensificadas. Não há previsão de término das operações.

 

Informações do Correio*: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

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